Curiosidades sobre Game of Thrones

0

Qual o tamanho de Westeros? Quanta gente vive lá? Como funcionam exatamente as estações? O mundo de George R.R. Martin, que expandiu brutalmente sua fan base a partir de 2010, com a encomenda da série, é fascinante. Eu, confesso, comecei a ler somente após o término da primeira temporada. Por esta época, apenas dois livros haviam sido lançados em português brasileiro, e acabei comprando o terceiro e o quarto em inglês. Foi um pouco complicado, dado que meu inglês era bem mais arranhado do que hoje em dia. A tradução, aliás, ficou fraca, com “Little Cat” (pequena Catelyn) passando para “Gatinha” – o que mostra falta de conhecimento do tradutor sobre a obra que está traduzindo. Mas muita coisa também é chatice minha.

Game_of_thrones

Sem mais delongas, este é um post pra aqueles que gostam de mergulhar mais fundo nos universos que assistem ou lêem. Gostam de contextualizar. Como disse J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis:

 “[Criei] um Mundo Secundário no qual sua mente pode entrar. Dentro dele, tudo o que ele relata é “verdade”: está de acordo com as leis daquele mundo. Portanto, acreditamos enquanto estamos, por assim dizer, do lado de dentro.”

Eu acho que a fantasia perde quase todo o seu valor se você não “fizer de conta”. Fazer de conta que é real, que está lá dentro, etc. E num mundo de fantasia, quando o folclore é estruturado e meticulosamente articulado, tudo fica melhor. Por mais que As Crônicas de Gelo e Fogo sejam bem menos épicas, no sentido literário, que O Senhor dos Anéis e as obras de Tolkien, no geral. Espero agradar tanto o espectador eventual da série quanto àqueles que leram os livros, embora os mais viciados talvez já tenham procurado essas informações. Quem tiver interesse mais específico, basta pedir que eu direciono para links que tratam destes assuntos mais a fundo. Se você você é um menino ou menina verde do verão e sequer leu ou assistiu algo, este post pode conter alguns spoilers leves.

Melhores séries: SKINS (UK), veja tudo sobre uma das séries mais polêmicas de todos os tempos

Qual o tamanho de Westeros?

Vamos começar pelo mais simples: quão grande é o planeta? Martin disse e desdisse coisas sobre as minúcias do mundo que criou, e chegou a pedir – caso algum fã encontrasse um erro lógico nos livros – para que não falasse nada. Em tom de brincadeira, claro. Trabalha-se mais, entre todas as informações, com o tamanho da muralha: 700 pés de altura, por 300 milhas de comprimento (213 metros e 483 quilômetros). Há também uma citação de Jon Snow sobre a distância entre A Muralha e Dorne, nos início da obra, como sendo de bizarras 10 mil ligas (quase 50 mil quilômetros!), mas isso foi negado posteriormente pelo autor. Fica-se, então, com o comprimento da Muralha mesmo, dado que os mapas não têm escala.

Westeros tem, na verdade, mil ligas, ou 4800 quilômetros, mais algo acima da muralha, e pouco menos de um terço disso no ponto mais largo do continente. O próprio Martin falou que o continente tem o tamanho da América do Sul, enquanto Essos, onde ficam as cidades livres, tem o tamanho aproximado da Eurásia. E ainda temos que levar em conta que mais ou menos um terço de Westeros está acima da Muralha, na terra dos selvagens e mais além, nas Terras de Sempre Inverno (que traduçãozinha…) Essas são as informações do site Tor, especializado em ficção científica e fantasia, mas nele paro por aqui, porque a Universidade de Stanford tem um grupo chamado Geração Antropoceno, histórias sobre a mudança planetária, com informações mais detalhadas sobre a geologia e o clima de Westeros. Sim, essa galera existe. Em Stanford.

Charlie Sheen poderá aparecer no último episódio de Two and Half Men.

O grupo parte do pressuposto básico e óbvio de que o norte é frio o bastante para manter a Muralha congelada (a não ser que seja assim apenas por magia) e de que o sul é quente o bastante para que os mapas o considerem parte desértico (lembrem-se do Deserto Vermelho, que a Daenerys atravessa após a morte de Drogo). Na terra, os desertos aparecem aproximadamente 30 graus de latitude acima ou abaixo do Equador por causa dos ventos alísios, que retiram umidade dos trópicos e levam ao Equador, zona de calmaria. A Muralha, por sua vez, se localiza no ou próxima do Círculo Polar Ártico, a 65,5° norte. Levando essas latitudes e os 4800 km em consideração, e partindo do pressuposto lógico de que todo Westeros está acima do Equador, temos um raio de quase 7 mil km no planeta. A Terra, com seus 6370 km representa 92% disso.
No oficial não-oficial fórum sobre As Crônicas, asoiaf.westeros.org, o usuário doubletee postou algumas imagens sobre o assunto, que mais se adequam ao que escrevi acima:

a

Mapa de Westeros no mundo real

Faço duas ressalvas. Na primeira imagem, deslocaria Westeros um pouco pra cima, e na segunda, um pouco pra baixo, pra encaixar exatamente no norte da Islândia, onde começa o círculo polar. Há outro mapa, bem interessante, feito pelo usuário Winner, do fórum CivFanatics (série Civilization). encaixando Westeros na Europa, apesar de diminuir um pouco os sete reinos:

westeroseurocompar

Qual a população de Westeros?

Essa é uma pergunta igualmente interessante. Para respondê-la, precisamos apelar para, além das informações contidas no livro, conhecimentos demográficos disponíveis sobre a nossa própria Idade Média, que é mais ou menos onde a história se situa. Sabe-se mais ou menos quanto cada região levantou em quantidade de homens para a guerra, e que na Idade Média, a proporção máxima entre guerreiros e população era de 2% durante longos períodos, pois mais que isso levaria qualquer reino ao caos, numa crise de fome. No tumblr thronesofgame, isso é dito a partir de um link sobre demografia medieval feita para criação de jogos RPG. Trabalhando com uma densidade populacional de 50 pessoas por milha quadrada, ou 19 pessoas por quilômetro quadrado, o autor do texto chega a uma conclusão de 20 milhões de pessoas, por baixo.

Especial Grey`s Anatomy

O site Quora coloca a população total do mundo até agora revelado por Martin, com Essos incluída, em aproximadamente 30 milhões, mas isso me parece irreal. Claro, parto do pressuposto de uma relação proporcional entre a Terra e o planeta das Crônicas, até porque nosso amigo George já disse ter sido influenciado por algumas histórias medievais, sendo a mais importante delas a Guerra das Duas Rosas, na Inglaterra, entre os Lancaster e os York. Vajamos: uma pesquisada na Wikipédia nos dá informações sobre a população da Europa na Idade Média, tanto na Alta (da queda de Roma ao ano 1000 d.C.) quanto na Baixa (do século X até o século XIII).

Dificilmente Westeros estaria à frente disso, o que equivaleria à Idade Média Tardia, quando a população europeia diminuiu devido às pestes, à superpopulação e às crises econômicas e sociais delas advindas. Eu prefiro situar as Crônicas mais ou menos no período histórico de Carlos Magno (início do século IX), e nessa época acredita-se que a Europa tenha sido o lar de 25 a 30 milhões de almas, mais da metade destas vivendo sob o Império Carolíngio, que cubria a atual França, os países baixos (Holanda e Bélgica), o centro-oeste da Alemanha, a Áustria, a Eslovênia, o norte da Itália e parte do norte da Espanha. Esse foi um período de estagnação populacional, com o processo de êxodo urbano já estabilizado, mas ainda com algumas cidades relativamente grandes (licença poética para os 500 mil habitantes de Porto Real e Vilavelha) e grandes epaços de terra despovoada e sem lei entre elas.

O melhor texto que encontrei, entretanto, em se tratando de população westerosi, foi escrito por Brian Mangan, do site The Read Zone, intitulado What is The Population of Westeros? (through S4, Ep 6, no book spoilers). Brian escreve algo bem legal quando se trata de espulações meio nerds sobre os mundos dentro das histórias em geral: “se em algum momento você se pegar dizendo ‘isso não é científico o suficiente!’ ou ‘ele citou Wikipédia. pega ele!’, tome duas pílulas calmantes, e não me ligue pela manhã. Se em algum momento você se pegar dizendo ‘a população é zero, é uma ficção!’ você está certo, mas não é nem metade tão esperto quanto acha que é”. [tradução livre]

Ele escolhe um caminho bem legal para determinar a população aproximada de Westeros: a partir do tamanho do continente e da densidade populacional estimada, a partir do tamanho das cidades e de uma estimativa de taxa de urbanização, e partir da quantidade de guerreiros levantados durante a Guerra dos Cinco Reinos. À parte da magia, dos dragões e dos Caminhantes Brancos, Westeros se parece muito com a Idade Média. Sobre a estimativa a partir do tamanho, não há muito mais o que dizer: ele sai das mesmas informações já dadas (América do Sul, Muralha, etc, e conclui que há entre 33 e 60 milhões de habitantes trabalhando com uma densidade média de 11 habitantes por quilômetro quadrado, sendo a forma menos acuradas das três. Também aponta para algumas inconsistências da obra, como a viagem em 30 dias da comitiva do Rei Robert de Porto Real a Winterfell. Além do mais, ele considera, e com muita razão, muito improvável que um sistema feudal consiga operar sobre um domínio do tamanho da América do Sul, sendo que o Império Romano, no auge e sob outro sistema, dominou um território que representava 40% disso.

Melhores séries: The Blacklist. Conheça tudo sobre a série aqui

As duas outras formas chegam a resultados parecidos. Por volta do ano 1300 d.C., a taxa de urbanização da Europa era de 9,5% pessoa em cidades de mais 5 mil pessoas e 3,3 em cidades de mais de 10 mil. Em Westeros, as populações conhecidas são essas: Porto Real – 500 mil; Vilavelha – 500 mil; Lannisporto – 300 mil; Vila Gaivotas – 60 mil; Porto Branco – 50 mil (a única “cidade” no Norte, e a menor das cinco grandes cidades). As cidades menores que esta última, mas ainda assim maiores que 10 mil habitantes, devem certamente existir (Lançasolar, Winterfell, Correrrio, as Gêmeas, etc), elevando a quantidade de habitantes das cidades. Com 1,66 milhões e uma taxa de urbanização de 4%, chega-se a uma população de 41,5 milhões.

A partir dos exércitos, os números aproximados ficam assim: Terras do Rei – 15 a 20 mil; Norte – 40 a 45 mil; Ilhas de Ferro – 20 mil; Terras Fluviais – 45 mil; Valle de Arryn – 45 mil; Terras Ocidentais – 50 mil; Campina – 100 mil; Terras da Tempestade – 30 mil; Dorne – menos de 50 mil. Isso dá 405 mil guerreiros, e trabalhando com 1%, e multiplicando por 100, portanto, chega-se a 40,5 milhões de pessoas. As férteis terras dos Tyrrel lhes dá o dobro da população da segunda mais populosa região, as Terras Ocidentais, dos Lannisters. O Norte, apesar de sozinho ter mais da metade da área de Westeros, tem algumas centenas de milhares a menos. As inférteis e pequenas Ilhas de Ferro dos Greyjoy, como era de se esperar, têm a menor população.

Assim, chega-se à conclusão de que a população Westeros deve ficar entre 36 e 44 milhões de pessoas, algo como a população atual da Argentina. No entanto, Brian Margan deduz que, de acordo com as informações mais recentes, principalmente sobre Dorne (mais desértica do que se pensava), o número talvez varie entre 32 e 40 milhões, algo como a população do Canadá.

Curiosidade adicional

Luiz Pacheco, do site Prosa Econômica, chamou atenção para alguns aspectos da história que podem não fazer muito sentido. Um deles muitos de nós já questionou: como funcionam exatamente essas estações climáticas? Quem foi mais fundo, questionou se isso é possível, fisicamente e econômicamente viável, mesmo dentro da lógica do que o Tolkien disse e eu citei no começo deste texto: está de acordo com as leis do mundo? Pacheco diz que não. Primeiro, as guerras são “intermitentes e generalizadas”, e as famílias nobres são “bastante beligerantes”, mobilizando “muitos servos para seus exércitos”, sendo a prática mais comum durante as guerras o incêndio às lavouras. Embora a última parte seja verdade, não tenho certeza sobre a extensão do resto.

Dicas de séries: Upon a Once Time

O “muitos servos” é relativo e depende da quantidade de habitantes das regiões, que já analisamos aqui, o resto fiquei em dúvida se refere-se ao mundo real ou a Westeros propriamente dita, e adotando a segunda perspectiva especificamente, eu discordo. As guerras são intermitentes, mas raramente generalizadas, e ambos, assim como a beligerância das Casas, dependem da época histórica do livro (a mitologia das Crônicas cobre milhares de anos). Segundo, as durações das estações não são conhecidas, o que é verdade e considero uma crítica forte. O homem planta e colhe de acordo com a previsibilidade da natureza, e apesar dos Meistres saberem quando mudam as estações, eles não conseguem prever com mínima exatidão sua duração. Sem a previsibilidade, mesmo que bruta, na agricultura, o mundo mergulharia num caos social temperado pela fome, pelas pestes, etc. Embora apresente problemas, a história não é tão inviável, economicamente.

COMPARTILHE